Programação infantil vive queda na televisão aberta

As manhãs dedicadas a programas para criança estão em extinção. Isso na TV aberta. Enquanto o número de atrações infantis caiu nos últimos anos em canais como Record, Band e Globo, serviços de vídeo sob demanda pela internet aumentam o investimento nesse público.

Segundo dados deste mês da Netflix, metade de seus 62 milhões de assinantes pelo mundo assiste a programas infantis semanalmente. Não são revelados dados de audiência específicos do Brasil.

O serviço on-line tem 23 produções infantis próprias pelo mundo. De acordo com a Netflix, para assistir a todo esse conteúdo, uma criança gastaria o tempo de 75 viagens de ida e volta até a Lua.

Na televisão aberta, entretanto, a situação é outra. Levantamento realizado pela Folha com análise da programação de Globo, SBT, Band, Record, Cultura e RedeTV! mostra que desde o início dos anos 2000 decresceu bastante o número de horas dedicadas a atrações infantis nos canais abertos da TV.

Em 2000, por exemplo, a Globo reservava diariamente três horas no período da manhã para programas como “Angel Mix” e “Xuxa Park”.

Cinco anos depois, reduziu para cerca de duas horas diárias. Em 2012, com a estreia do “Encontro com Fátima Bernardes”, os infantis perderam o espaço diário na grade. Hoje, são cerca de três horas por semana, exibidas somente aos sábados.

Isso se repete em outros canais. A Record, que dedicava 20 horas semanais às crianças em 2000, hoje exibe seis horas, distribuídas entre sábado e domingo.

Já a RedeTV!, que em 2010 apresentava três horas diárias do “TV Kids”, hoje não tem atração alguma.

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Editoria de arte.

Na contramão, estão SBT e Cultura, que mantêm o investimento em programas para crianças. A Cultura chegou a aumentar nesses 15 anos e hoje exibe, de segunda a sexta, 12 horas. Aos sábados, são 11 horas e aos domingos, mais três.

Já o SBT, que exibia mais de 70 horas semanais em 2000, reduziu bastante a programação. Mesmo assim, tem cerca de 40 horas por semana dedicadas a crianças, misturando desenhos estrangeiros a produções nacionais, como “Chiquititas”.

Os resultados de audiência, afirma Silvia Abravanel, diretora do núcleo infantil do canal, são satisfatórios. Ela destaca o desempenho do “Bom Dia & Cia”, que neste mês alcançou média de 5,5 pontos, ante oito da Globo.

“É seguro afirmar que nos próximos anos o SBT continuará investindo nas crianças. Eu garanto”, diz.

Segundo Francisco Almeida, diretor de programação da RedeTV!, o canal considerou recentemente fazer seu primeiro infantil, mas não levou o projeto em frente.

“Nosso departamento comercial meio que brigou com a gente”, conta ele. “Está difícil vender programa infantil. Você não pode fazer merchand. Fazer um investimento desses e não ter faturamento é complicado.”

No ano passado, o canal tentou negociar com os palhaços Patati e Patatá, mas não conseguiu vender anúncios.

CERCO

Em março de 2014, o cerco à publicidade dirigida a crianças chegou ao auge. Foi considerada abusiva por uma resolução do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente). Produtos infantis podem ser anunciados, mas devem ter como público-alvo os pais.

A restrição, segundo Rita Okamura, assessora de projetos especiais da Cultura —que recebe dinheiro do governo paulista—, tornou os programas menos lucrativos.

“As inserções comerciais são a forma de os canais se manterem. A Cultura também precisa de anúncios. Estamos com dificuldade de recursos, mas temos a missão de atender as crianças.”

“Num esforço muito grande a gente tem conseguido manter”, afirma. “Estamos, inclusive, subindo os índices de audiência.” Os dez programas mais vistos do canal, de 25 de maio a esta semana, são infantis. O campeão é o “Matinê Cultura”, com 1,7 ponto de audiência. Como comparação, a média do “Roda Viva” no período foi de 1. Cada ponto equivale a 67 mil domicílios na Grande São Paulo.

Já Abravanel diz que o SBT não teve redução de anúncios desde a resolução do Conanda. Nos intervalos de seus programas infantis, hoje, vê-se propagandas de outros programas do canal, publicidade para adultos e para crianças, com foco nos pais —como aspirina infantil.

“Nossa programação é tão boa que os outros canais não querem investir para ficar perdendo toda hora. Eles deixam os infantis para a gente”, gaba-se ela.

Fonte: Folha de S.Paulo – Ilustrada – 21/06/2015 – http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/06/1645333-programacao-infantil-vive-queda-na-televisao-aberta.shtml.

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