Em defesa da publicidade infantil – Por Marici Ferreira

Em minha vida pessoal, como mãe e, agora, avó, bem como empresária, sempre optei —e assim continuo fazendo— pelo caminho do meio. Os extremos, em minha opinião, nunca trazem bons resultados. É só olharmos o que vem acontecendo com países nos quais seus governantes optam pelo radicalismo, com impacto direto na sociedade, todas reprimidas. Sem voz, sem ação, sem escolha.

O diálogo, sim. Pois compartilhar ideias, opiniões e posicionamentos sempre oferece oportunidades valiosas para trajetórias mais positivas. Isso vale para todos os âmbitos da vida. Inclusive para os negócios!

A palavra “proibição” em contextos que levantam bandeiras radicais me causa arrepios. Porque, se é proibido, alguém que certamente tem seu valor está sendo prejudicado.

Gosto da palavra “regulamentação”, pois esta se aproxima do caminho do meio. Um grupo de pessoas analisando, refletindo, ponderando, criando regras e, enfim, as fazendo valer… Mais saudável, não?

No meu dia a dia, a palavra “proibição” é mais constante do que gostaria. Vira e mexe sai na imprensa a frase: “proibição da publicidade infantil”. Quem lê as reportagens na íntegra entende que se trata de um projeto de lei. Não é uma realidade. Ainda bem!

Mas há um montão de leitores —amigos meus e empresários do meu relacionamento, inclusive— que leem a chamada e, pronto, vira verdade. Melhor falar do meio termo; uma regulamentação eficiente que preserve os consumidores dos extremos publicitários.

Porque é isso que faz sentido! Mantém o trabalho qualitativo dos setores da indústria e do varejo em evidência. E pune quem não segue as regras do jogo. Já melhoramos muito nesse quesito, concorda?

E não estamos estagnados. Há todo um trabalho incessante para que produtos e serviços levem mais e mais experiências positivas para as crianças e suas famílias. Quem vive rodeado pelos pequenos, como eu, sabe bem que há muitos personagens que são exemplos positivos e encorajadores para a criançada. Quer queiram ou não, é uma geração de telas, de multitarefas, de on demand! Esse é o DNA deles.

E há, claro, aspectos positivos e negativos, como em tudo. E é aí que entra a regulamentação de casa, sabe? Aquela do pai, da mãe, dos avós… Eles têm o livre arbítrio —adoro essa palavra— de optarem de que maneira suas crianças consomem conteúdo, produtos, serviços. Quando mencionam a tal proibição, eu me sinto com 3 anos de idade, incapaz de decidir com coerência. E você?

Lá em casa adoramos maçã. Minha neta mais nova estava um pouco resistente ao alimento. Já não está mais. As maçãzinhas da Turma da Mônica ajudaram na tarefa!

Assim aconteceu também com o medo do escuro, com as birras para fazer lição de casa, com a preguiça para tomar banho…

Diversos produtos nos auxiliaram nessas dificuldades, pois criaram um ambiente lúdico, positivo e, enfim, conseguimos, juntos, superar cada fase da nossa pequena. “Pescamos” as dicas —quase tutoriais— que ela nos dava sobre personagens e produtos e utilizamos a nosso favor, a favor dela. Que também adora sanduíche do McDonald’s e que em casa pode. Uma vez por mês! Regulamentamos isso. Temos essa capacidade, acredite.

Se ela e meus outros netos pedem um milhão de coisas entre guloseimas, brinquedos e afins? Certamente! Por vezes cedemos. Em outros momentos negamos e explicamos o motivo. Porque acredito que é assim que se educa: com diálogo.

Proibir não ensina, apenas cria uma geração que não sabe pensar, escolher e respeitar os combinados. E isso é inevitável na vida adulta, certo? Como dizia a minha avó, com quem eu passava férias no interior: “Vá pelo meio, é mais seguro”, referindo-se à ponte de madeira que levava até o vilarejo. E você? “Anda” por onde?

MARICI FERREIRA é presidente da Abral (Associação Brasileira de Licenciamento) e diretora de redação das revistas “Zero a Três” e “Espaço Brinquedo”, especializadas no segmento infantil.

Fonte: Folha de S. Paulo (13/12)

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